Maurício Villaça , um dos precursores da arte do graffiti no Brasil , partilhava da idéia de que graffiti são também as garatujas que fazemos desde a mais tenra idade, os rabiscos e gravações feitos em bancos de praça, banheiros, até mesmo aqueles que surgem quando falamos ao telefone. Assim , também o grafitar que se difunde de forma intensa nos centros urbanos significa riscar, documentar de forma consciente ou não , fatos e situações ao longo do tempo . Diz respeito a uma necessidade humana como dançar , falar , dormir , comer , etc. É possível dissociar essas necessidades humanas da liberdade de expressão. Não existe graffiti ou quem produza de forma não democrática. Alias , o graffti veio para democratizar a arte, na medida em que acontece de forma arbitraria e descomprometida com qualquer limitação espacial ou ideológica. Todos os segmentos sociais podem vir a ser lidos pelos artistas do graffiti, assim como seus símbolos espalhados pela cidade podem ser lidos por todos, pois o graffiti engloba um linguajar e uma forma de expressão bastante ampla em sua contextualização, são diversas influencias talvez, não se pode dizer que o graffiti seria talvez uma "vanguarda", pois o propósito fundamental do graffiti , não é apenas cores fortes, traços leves, e assim por diante, são diversos recursos com a intenção de compor o espaço urbano de modo a estabelecer uma maior identificação com o leitor.
A palavra aqui usada e a grafia adotada (graffito) , que vem do italiano, inscrição ou desenhos de épocas antigas , toscamente riscados a ponta ou a carvão , em rochas , paredes etc. Graffiti é o plural de graffito . No singular , é usada para significar a técnica (pedaço de pintura no muro em claro e escuro). No plural , refere-se aos desenhos (os graffitis do Palácio de Pisa), a respeito de outras grafias adotadas, escolhi a de origem italiana , por que há palavras , que devem permanecer em sua grafia original pela intensidade significativa com a qual se textualiza dentro de um contexto.
Já no século XX , pintores mexicanos utilizando-se das técnicas da pintura mural , decoravam edifícios públicos. Como nos enormes murais executados por Diego Rivera , José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros, quando convidados pelo então intelectual revolucionário José Vasconcelos , na ocasião em que, após uma serie de golpes de Estado , sobe ao poder. Em 1905, Dr. AIL (pseudônimo do pintor Bernardo Carnada) publicou um manifesto defendendo a necessidade de uma arte publica. Em Barcelona , quinze anos mais tarde , Siqueiros fez apelo aos artistas da América proclamando a necessidade de se lançarem todos à tarefa de promover uma arte capaz de fala às multidões. "Pintaremos os muros das ruas e das paredes dos edifícios públicos, dos sindicatos, de todos os cantos onde se reúne gente que trabalha " afirmou Siqueiros.
No Brasil dos anos 50 , vários murais arrematavam as fachadas dos edifícios narrando temas da historia e da arte brasileira , como o realizado por Di Cavalcanti , com cerca de 15 metros de comprimento , na fachada do Teatro de Cultura Artística , na região central de São Paulo. Todos esses dados sobre muralismo , junto com a pop art , já apontavam para origem do graffiti contemporâneo enquanto expressão artística e humana. Essa manifestação , que começa a surgir no Brasil já nos anos 50, com a introdução do spray, segue pelos 60, passa pelos 70 e se consagra como linguagem artística nos anos 80, conquistando seu espaço na mídia, chegando à Bienal , a manchetes de jornais e até a novelas de TV, seguindo pelos anos 90 , e assim diante, em constante evolução.
Considerando pós-moderno , não podemos confundi-lo com pinturas em muro que, não advindo do novo, se enquadram , de uma forma ou de outra, nos padrões convencionais de pintura e não possuem uma produção considerável. Vale lembrar que toda manifestação artística representa a situação histórica em que esta ocorre, não por que necessariamente toda arte deva ser engajada, mas porque é realizada pelo sujeito histórico dentro de um contexto histórico-social e econômico. No entanto , o graffiti utilizando-se da cidade como suporte , a de retratar a situação , nesse meio presenciada ou vivida , assim relaciona automaticamente com a pichação também, cujo seu veiculo de existência também é o espaço urbano. Assim como o graffiti a pichação interfere no espaço, subverte valores, é espontânea, gratuita , em fim . Mas há diferenças, entre o graffiti e a pichação, é que o primeiro (graffiti) advém das artes plásticas e o segundo da escrita, ou seja, o graffiti privilegia a imagem, a pichação, a palavra ou a letra, sempre retratando o que a de convir ao contexto.
O graffiti ao utilizar o meio urbano como forma de expressão, contrario aos demais movimentos artísticos , que se inserem na sociedade através de um trabalho muitas vezes planejado e exposto em galerias e museus, faz com que seja bastante questionado. Um dos aspectos conceituais mais interessantes encontrados nessa linguagem (graffiti), é sem duvida, a questão da proibição, sempre presente , talvez um preconceito ou mesmo uma falta de informação a respeito do que acontece e a arte final prescrita no muro , faz com que muitos da população ajam a favor dessa proibição, ao visualizar esse tipo de ação. Ao observamos essa opressão, ou melhor dizendo essa proibição , percebemos que ela está ligada ao conceito de propriedade privada, ou seja, o que pensara o proprietário do espaço ao ver sua propriedade graffitada , sem sequer ser comunicado .Engloba uma questão bastante ideológica ao referirmos a esse aspecto , porem a de convir que o graffiti por sua natureza intrínseca, sempre será marginal. Mas se focalizarmos o aspecto de pratica com as técnicas, de proposta de trabalho e de amadurecimento das obras, reconheceremos, num primeiro momento, uma fase de domínio marginal. Fase em que os artistas em "roles" pelas ruas da cidade pesquisavam e realizavam o graffiti basicamente preto e branco. Porem esse estilo, se é que podemos taxar dessa maneira, ainda tem suas raízes atuais, o fato de fazer graffitis com pouca elaboração e de maneira ilegal ainda aflora-se na mente dos artistas, assim podemos confirmar observado-se a cidade como um todo, e que em sua maioria é tomada por esse estilo, descrito como bombing, ou mesmo thronw-up, numa representação espontânea. |
No entanto não podemos, dizer que a população vem encarando o graffiti a cada dia que se passa como um meio artístico da cidade, podem até afirmar isso, porem discordam da ação, assim vejo que a proibição está, mais do que nunca, em pauta . Vejamos, o presidente da Republica sancionou um lei ambiental, talvez nos anos 90, um tempo atras, de numero 9.605, que entrou em vigor, no inicio de 1998, que além de conceituar o graffiti e a pichação sem estabelecer distinção alguma, os declara crime contra o meio ambiente passível de penalidades. Paradoxalmente, esse impedimento do exercício coletivo de liberdade de criação contribui para que os artistas continuem na busca da perfeição, focos para alguns, superação, e firmar-se acima das possíveis criticas e da aceitação maior do publico, porem abrindo um leque também para, novamente a questão, a ação ilegal, que muitos a justificam pelo fato de haver uma proibição, e o ilegal é legal.
A trupe de graffiti americano, começou a despontar em 1980, junto com o movimento hip hop, fazendo parte dos tão falados 4 elementos, que no caso se ligam diretamente ao rap, são os DJ's, nos toca discos, os MC's, no microfone, mandando sua mensagem, os B.Boys , entrando no compasso do rap com danças criativas, e os graffers , colorindo o meio em que passam. No Brasil esse estilo não só invadiu o metrô, varias experiências foram realizadas em termos de técnica, pois no inicio só se via um tipo de traço de spray. O tamanho padrão das latas, com jatos relativamente grossos, fez com que se buscassem novas possibilidades de variação de bicos. Assim percebeu-se que desodorantes e inseticidas possuíam bicos que produziam traços mais finos. A partir daí, descobriu-se que extraindo um pouco de ar da lata de tinta spray seu jato torna-se menos denso, e o traço mais fino, e assim fora se aprimorando. Por ultimo, tivemos a utilização do compressor, substituindo a lata de spray, porem muitos dos graffiteiros discordam da utilização dele pois alem de substituir as latas está substituindo o próprio graffiteiro, deixando o de comparsa a uma maquina. O estilo americano começou realmente a ser realizado em grande escala em 1989, com os gêmeos Gustavo e Otavio, Speto, Binho, Tinho e, ainda, o excelente grupo Aerosol, que se destacaram entre outros. Hoje em dia, alem das letras coloridas, caracteristica do graffiti americano, estão aparecendo desenhos elaborados, partindo de apurada técnica. Esses desenhos traduzem o universo hip-hop em suas mais variadas nuances, com figuras humanas dançando, pensando, cantando, etc... bastante americanizado, porem , os mesmo estão caminhando para uma evolução, como podemos presenciar, esse estilo americano, está sendo bastante abrasileirado, e assim expondo nossa cultura a população, assim entretendo e passando informações ao publico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário